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Fique rico com dividendos
Fique rico com dividendos

FIQUE RICO COM DIVIDENDOS
As Aristocratas (e o que podemos aprender com elas)
Neste relatório abordaremos dois critérios simples e práticos para escolher ações
que pagam bons dividendos.
Nossa inspiração é o S&P Dividend Aristocrat, índice de ações americanas que
engloba membros do S&P que aumentaram seus dividendos nos últimos 25 anos.
Explicaremos o conceito do índice para, em seguida, fazer inferências para a bolsa
brasileira a partir dele.
O conceito de uma Dividend Aristocrat é simples: empresas que fazem parte do S&P,
índice de ações dos EUA, e aumentaram seu dividendo todos os anos nos últimos 25
anos. São, em geral, blue chips com histórias estáveis de crescimento nos lucros e nos
proventos distribuídos aos acionistas.
É um grupo seleto, de cerca de 50 papéis (o número varia ano a ano, com a saída das
ações que deixaram de aumentar os dividendos e com a adição das entrantes). Há
como requisito somar um market cap de pelo menos US$ 3 bilhões, além de girar
uma negociação diária de ao menos US$ 5 milhões. Sem as restrições de liquidez mas
com requisito análogo de pagamento de proventos, temos a lista de Dividend
Champions, mantida pelo DRiP Resource Center. Ele reúne cerca de 100 ações que
aumentam seus dividendos há 25 anos mas sem necessariamente fazer parte do S&P
ou ter um giro mínimo.
Veja: estar em um desses grupos não significa que a ação paga um yield elevado (por
esse e por outros motivos, cuidado ao entrar em um papel apenas pelo seu dividend
Julho de 2014
FIQUE RICO COM DIVIDENDOS
As Aristocratas (e o que podemos aprender com elas)
CHANCE
BANKS PAYS
YOU
DIVIDEND OF $ 100

yield. Falaremos mais disso adiante). Só porque um dividendo é crescente não
significa que ele é alto - pode ter começado muito pequeno e aumentado
gradualmente - nem quer dizer que o retorno é alto. Ademais, a valorização do papel
pode reduzir o yield implícito. Muitas das ações nos dois grupos tem yields na casa de
3% - isso não é pouco para o padrão norte-americano, mas não estaria no quarto
quartil brasileiro.
Em outra seleção encontram-se ações com histórico de pagamento crescente, mas
em período menor. O mesmo DRiP Resource criou a nomenclatura de Dividend
Contenders, com dividendos crescentes há pelo menos 10 anos, e no máximo 24, um
passo anterior às Aristocrats. Por fim, as Challengers estão um passo antes das
Contenders, com aumento no pagamento de dividendos nos últimos 5 a 9 anos.
Em que grupo você prefere estar?
A resposta mais imediata é ficar com as Aristocrats/Champions. O track record é
maior e a taxa de ações que saem do compêndio (ou seja, que deixa de aumentar o
dividendo pago) é a menor de todos os grupos, rodando em menos de 10%. Em
2012, por exemplo, foram adicionadas 10 novas ações ao índice, e apenas uma saiu.
Mesmo em anos de crise, o número de ações que deixa o índice não passa de 20%.
A chance de comprar uma ação que continuará aumentando seu pagamento de
dividendos é grande.
No entanto, veja que, em geral, os yields e os retornos ao investimento neste grupo
são menores do que nos demais. Em geral, quanto menor o período de dividendos
crescentes, maior o yield médio anual (3,36% no caso das Challengers e 2,94% no
caso das Aristocrats/Champions, por exemplo, de acordo com dados do DRiP). Em
dez anos, o yield estimado de uma Champion é de 5,5%, contra 8,6% das Challengers.
Não estamos trazendo esses dados de um índice norte-americano pouco conhecido
meramente como curiosidade intelectual. Inspirados nele, faremos um exemplo do
índice à brasileira, e depois extraímos quatro pontos importantes que devem ser
levados em conta quando se investe em dividendos.
Brasil
Levantamos o pagamento de dividendos de todas as ações listadas na bolsa brasileira
desde 2004 (tabela ao final do capítulo). Antes disso, o mercado brasileiro ainda
Julho de 2014

gozava de características muito incipientes e estava fechado a novos IPOs - tanto em
número de empresas listadas como giro do mercado, o que limita sobremaneira
nossa análise.
Filtrando apenas as ações que aumentaram seus dividendos desde o exercício de
2008 (períodos menores trariam apenas ações com liquidez muito restrita),
chegamos a oito papéis: Cyrela Commercial Properties, Dimed, Eztec, Helbor, Merc
Invest, Pão de Açucar, Providencia e Trevisa.
Neste balaio, temos desde ações de alta liquidez e histórico de resultados sólidos
(PCAR), small caps (Providencia) até ações com baixíssima liquidez e falta de
visibilidade (Merc Invest).
Interessante notar a ausência de elétricas, usualmente associadas a bom pagamento
de dividendos, na seleção. Há um fator fundamental para essa ausência: as quebras
preconizadas por mudanças regulatórias importantes, seja uma mudança drástica de
paradigma, caso da MP 579, seja mudanças previstas no arcabouço regulatório mas
com alguma alteração de metodologia, afetando os financials e a percepção de risco,
como a introdução de novos ciclos de revisão tarifária para as distribuidoras.
Embora tenham os maiores yields na média, não há nenhuma elétrica com aumento
de dividendo desde 2008.
Empresa
Ticker
Variação
2008-2013
(%)
Yield anual
médio
2007-2013*
Média de
volume
(R$ MM)
Cyrela Com.
Properties
CCPR3
94,08
1,8
912
Dimed ON
PNVL3
298,57
2,7
115
Dimed PN
PNVL4
237,58
3,3
11
Eztec
EZTC3
287,02
2,9
5.362
Helbor
HBOR3
229,97
4,0
1.729
Merc Invest
BMIN4
-42,88
3,0
49
Pão de Açucar
PCAR4
226,56
1,1
46.486
Providencia
PRVI3
9,02
5,7
561
Trevisa
LUXM4
62,56
2,0
6
Julho de 2014

Na tabela da página seguinte, reunimos o histórico de dividendos das empresas
comentadas, e adicionamos o desempenho dos papéis:
*Yield anual calculado
Algumas inferências a partir dos dados americanos e brasileiros:
1- Dificilmente você conseguirá um papel com track record extenso de bom
pagamento de dividendos e um yield muito alto. O que não falta é investidor que
deseja bons dividendos, e quando essa empresa existe, muito provavelmente atrairá
mais investidores para o papel, aumentando o valor de mercado, o que reduz o yield.
Isso não é necessariamente um problema. Já dissemos repetidas vezes: não fique cego
pelo yield ao montar sua carteira de dividendos (nem pelos grandes nem pelos
pequenos). Um yield pequeno pode esconder ganhos em valorização do papel, e nada
te impede de vendê-lo e realizar o lucro. Um exemplo é Pão de Açúcar, que aumenta
o montante de dividendo pago desde 2007, mas tem yield anual médio de 1,1% no
período. Por outro lado, o papel subiu 226% desde então. Tomando um período
menor de tempo, Ultrapar entraria nessa lista - a empresa aumentou o dividendo
pago nos últimos quatro anos, com yield de 3%.
2- Tomar o critério de dividendos crescentes não faz tanto sentido no Brasil, onde o
período de track record é muito menor. Ter dividendos crescentes há 6 anos nem
significa estabilidade (diferente das Aristocrats, por exemplo) nem significa alto
retorno. Ademais, vale ponderar os casos em que se cresce pouco a partir de um
patamar baixo: casos de Merc Invest que, em adição, tem liquidez medíocre e
desempenho péssimo.
3- Por outro lado, preservada uma premissa, não há necessariamente um problema se
uma ação se desvaloriza, caso seu objetivo é ganhar com dividendos. A premissa que
precisa ser cumprida é: o montante de dividendo pago não pode diminuir. Na teoria,
se o valor de mercado de uma ação cai mas os resultados continuam crescendo,
permitindo que a empresa aumente o dividendo pago, o preço da ação deve voltar a
subir. O problema aqui é achar a ação que atenda a essa premissa, de queda do valor
do mercado com aumento no valor dos dividendos pagos.
Vejamos dois casos distintos brasileiros, Aes Tietê e Helbor, para ilustrar esse ponto.
Julho de 2014

GETI pagava ótimos dividendos (yield de dois dígitos até 2012), mas começou forte
desvalorização em bolsa. Muitos investidores nos perguntaram se não era o
momento de entrar no papel e aumentar a posição, se aproveitando do aumento no
yield. Como houve queda nos lucros e consequente queda no montante pago (R
$
2,88 para R$ 2,50), o numerador também sofreu e esse tal aumento no yield não
foi tão substancial assim. Seguindo o critério acima,
GETI
foge, portanto, da definição
de "dividend aristocrat".
Já no caso de Helbor, as ações também caíram ano passado (-16%), mas houve novo
aumento no dividendo pago, continuando uma sequência que já dura seis anos. Nesse
caso, a recomendação está preservada e temos uma oportunidade interessante de
reforçar posição no papel - reinvestindo os dividendos pagos ano passado, por
exemplo